"I come from a land down under Where beer does flow and men chunder Can't you hear, can't you hear the thunder You better run, you better take cover." MEN AT WORK
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Dia 3 - Melbourne
Se Adelaide é Ottawa com Houston, Melbourne é Toronto com Buenos Aires.
O calor a tudo consome, desidrata a alma da gente, faz-nos suar a alegria de viver pelos poros e axilas. O condicionador de ar é apenas um elemento de decoração empoeirado e pleno de bactérias na parede do quarto do hotel, mas há uma franquia de donuts na esquina, então a vida já volta a valer um pouquinho a pena. Lojas e mais lojas e mais lojas pela cidade, e em tempos de internet em que tudo se baixa e pirateia, não há nada a comprar. Há uns dez anos, eu não imaginava que algum dia fosse me queixar da fartura...
Se o calor continuar assim hediondo, vou me encorajar a fazer o imperdoável e calçar aqueles medonhos sapatos croc que trouxe na mochila, torcendo para que ela fosse extraviada com eles dentro.
Dia 2 - Adelaide
O sol permanece cruel, e a disciplina para tentar alongar ou fazer um pouco de abdominais longe dos olhos da professora da academia, inexistente.
De passagem por um destes muitos monumentos sequer citados no guia, e mesmo sem ter fumado nada, tive um momento de revelação mística: O anjo esculpido em pedra, ostentando toda sua indiferente imponência e grandiosidade, nem por isto especificamente cruel ou agressiva, ainda assim inspira em três seres humanos atitude de amedrontada submissão e temor. Lembrou-me pouco aqueles anjos de nome engraçado de livros de auto-ajuda religiosa ou do discurso de tele-evangelistas neopentecostais que os citam antes de pedir um acréscimo ao dízimo já regularmente pago. Mas a expressão e reação das três pessoas captura bem aquele lapso de momento em que entramos em contato com o Real, nos damos conta da violenta enormidade e poder do mundo ao nosso redor, que nossas palavras não domesticam e nossas regras e mitos não disciplinam. Mesmo se benigna, como no deus que o anjo alegadamente representa, tamanha enormidade não tem como inspirar outra coisa senão humilhado terror e cagona subserviência. Não se debate ou contemporiza com o anjo a boa nova (ou má, é indiferente) que este vem nos comunicar. Simplesmente nos resignamos a aceitá-la, apavorados com nossa minúscula irrelevância e indigna impotência. Compreendo o "sim, senhor" da "virgem" Maria quando convidada a parir o parafrênico mais célebre de nossa mitologia ocidental, mesmo sem o, digamos, bônus da participação do Zezão na empreitada. Vai ser boba de peitar um anjo...
Cara, quanta merda, né... Estou me acostumando a digitar neste tecladinho...
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