terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dia 11 - Sydney



Ontem, já que quando em Roma.... Ópera na Opera House. 47 dólares por cabeça, visão parcial do palco. E puta que o pariu: Philip Glass já escreveu 19 óperas, o John Adams umas 7, e na nossa vez resolvem encenar Don Giovanni.... Mas, enfim... podia ter sido Banda Calypso... No final, fomos realocados para os lugares de 105 dólares e visão total, então novamente o negócio pareceu relativamente vantajoso. 
Ópera clássica nunca me convenceu muito, e esta acabou demonstrando não ser exceção. Em umas 3 horas de apresentação, o texto permaneceu no máximo sofrível, e a música, indolentemente incidental, com exceção de uma meia dúzia de momentos de não mais do que 30 segundos de temas mais fortes e criativos. Do melhor deles, Michael Nyman se apoderou, agora vejo que muito Iiteralmente, para compor seu In Re Don Giovanni, o que de certo modo apequena esta última peça. E o texto muito frequentemente não casa com a música, o que dá aquela impressão de algo num meio de caminho ruim entre o declamado e o cantado. Para ser justo, tive a mesma impressão a respeito de Kepler, a última ópera do antigamente enorme Philip Glass: música preguiçosa, repetição genérica do vocabulário minimalista sem esforço algum para compor temas mais elaborados, e libretto lastimável... Puro piloto automático. A evolução e superação natural da ópera erudita demonstrou ser os musicais da Broadway. Qualquer montagem de Chess, dos caras do Abba e Tim Rice, bota a obra inteira de Puccini no chinelo.
Dá o que pensar... Por que coisas em si mesmas tão medíocres acabam se estabelecendo, sendo reconhecidas como clássicas, e em algum momento se tornam indiscutíveis, donas de um tamanho e relevância que não parecem decorrer de sua qualidade intrínseca ? Música atonal sempre foi um lixo. Glass e Vangelis hoje são sombras vagas do que já foram um dia. Mas Hovhaness e Havergal Brian ninguém conhece. E Wim Mertens, que já foi fundamental, permanece relevante. 98 % do que Hegel escreveu e uns 77 % de Kant são besteira confusa incompreensível, e ainda assim são tidos meio como o Mozart e o Beethoven da filosofia. Mas Cióran ninguém leu, inclusive eu e a mãe dele. Os evangelhos passaram séculos no mais absoluto desconhecimento e irrelevância desde o momento em que alegadamente teriam sido escritos, até que fatores iminentemente históricos e cinscunstanciais levaram ao início de um culto que hoje tem o reconhecimento e tamanho do Cristianismo.  Lacan não precisaria ter sido tão hermético se não temesse expor com mais clareza o que formulara. E Moreno nem chega a merecer ser considerado difícil, é simplesmente caótico e mal-escrito mesmo. Mas pelo menos pra este último só um punhado de jogadores aqui da segunda divisão dá alguma bola.
Pronto taí... Crítica musical e digressões variadas, superficiais e mal-embasadas pra variar... Amanhã eu retomo a escatologia...