quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dia 4 - Melbourne


Finalmente uma temperatura que guarda alguma semelhança com algo que poderia ser chamado de morno.
O sabor do frapuccino dark chocolate mocha do Starbuck's daqui é idêntico ao de São Paulo, tão difícil de chupar quanto, e, pela primeira vez, mais barato... Aliás, momento poético: qual o cúmulo da higiene ? Chupar uma buceta com canudinho...
Barriga cheia de sorvete e consciência cheia de culpa depois, visita ao aquário da cidade... Olhar para aquele monte de bichos bizarros nadando inocentemente em um aquário, em seu bovino (ou piscino) desconhecimento de sua real situação me fez pensar na condição humana, simbólica e talvez concreta... Quem sabe também nós não vivamos num enorme aquário undecadimensional, acreditando-nos livres mas incapazes de perceber a diferença entre nossa prisão líquida e o mar aberto ? Acreditando que nosso propósito se esgota em nadar de lá pra cá e obter o próximo naco de sardinha,  incapazes de conceber que atrás do vidro há crianças cósmicas fazendo barulho e derrubando pipoca no chão... E todo dia às 11 e às 15 horas vem o Dalai Lama, ou Ratzinger, o casto, nos oferecer alimento espiritual fácil, que nos parece o máximo de iluminação  possível alcançar... E então um dos orixás monitores se distrai, e uma das crianças divinas nos alcança e nos puxa para fora da água... E por alguns segundos ficamos lá confusos, perplexos, incapazes de respirar, atirados neste outro mundo que desconhecemos e nem remotamente compreendemos, até sermos devolvidos ao aquário que, por consenso, é o mundo real, e termos que passar o resto de nossas vidas líquidas tendo que tomar haldol de peixe para nos nublar um pouco a memória do que não deveria ter sido vivido.