"I come from a land down under Where beer does flow and men chunder Can't you hear, can't you hear the thunder You better run, you better take cover." MEN AT WORK
domingo, 23 de outubro de 2011
Dia 24 - Rotorua
Constatação número 1: A cidade cheira a peido. Estância de águas sulfurosas e coisa e tal, mas não deixa de parecer que estou passando férias nas nádegas de deus.
Constatação número dois: Puta pessoalzinho ocioso, hoje novamente é feriado por aqui, dia do trabalho desta vez, acho que a o quarto desde a Austrália. Parecem nossos simpáticos e circuncisados irmãos filhos de Abraão e Davi, de cujo sangue carrego algumas gotas em minhas próprias artérias, mas de cuja profusão de feriados não me é dado desfrutar...
E ontem à noite teve a final mundial de rugby entre a Nova Zelândia e a França... A dinâmica do jogo é incompreensível, mas ver aquele monte de machos fortões ejaculando testosterona enquanto urram ameaçadoramente pro outro time e logo em seguida alegremente se jogando uns sobre os outros, se esfregando gostosamente na bunda alheia,no que parece mais condizente com as saunas gays do que com arenas esportivas, reaviva minhas convicções de que Freud foi um tiozinho esperto quando propôs o conceito de formação reativa. Como esperado, ganharam os All Blacks, seleção da Nova Zelandia repleta de brancos loirinhos de olhos azuis.
E como já dizia o maior de todos os poetas, Augusto dos Anjos: "Eu, filho do carbono e do amoníaco, monstro de escuridão e rutilância..." Somos barro, da lama viemos e à lama voltaremos. No meio tempo, na lama permanecemos e no lodo chafurdamos, e isto nunca foi recentemente tão verdade quanto hoje, dia de ir lá esquentar o traseiro na pocilga geotérmica de Hell's Gate, a 90 dólares por cabeça. Diz o guia que a lama cinza daquele poço de piche tem propriedades medicinais, que abre todos os seus poros e suga todas as impurezas lá de dentro, assim meio como uma chupetinha dermatológica. Se a lama sugou as impurezas de minha pele eu não sei, mas tenho certeza de que meu rabo sugou metade da lama lá do local, e vai levar mais uns 3 banhos para devolver tudo à natureza.
Depois, almoço a 23 dólares por vivente num buffet de comida, o primeiro da viagem, prodigamente escassa em igrejas, concertos de música e buffets. Desnecessário contar da orgia alimentar, empurrando comida pelo tubo digestivo até xibiu fazer bico, e dos 3 dias de culpa que agora me acompanhará... Isto porque ontem já tinha rolado um Burger King...
Dia 23 - Rotorua
Mais um dia bucólico fugindo da chuvinha sob rodas e achatando o traseiro numa poltrona de ônibus, a caminho de Rotorua. Almoço num botecão de beira de estrada, com uma "torta de pastor" (sic) carinha mas bem decente. Se fosse no Brasil, o mesmo lugar teria para vender coxinhas suspeitas e ovo colorido.... Mas o mictório é tão nojentão quanto.
Minha barba, depois de mais de 3 semanas sem ganhar um trato além daquele irregularmente proporcionado por minha tricotilomania incipiente, está assim uma selva amazônica de fazer inveja à mata atlântica da Claudia Ohana. Um pedaço de batata frita perdido ontem mais ou menos nas imediações de meu queixo foi recuperado só agora há pouco, enquanto eu escovava os dentes. E fico pensando que haveria mérito em exercer um pouco de alo-tricotilomania na Claudia Ohana, que afinal já deve estar com a vegetação ciliar tão grisalha quanto minha barba.
Li ontem ou anteontem na Folha via internet que estão pegando pesado nas represálias ao carinha do CQC. Não gosto deles, e, bem mais do que o humor grosseiro que fazem, desaprovo a postura de transgredir sistematicamente os direitos civis daqueles que julgam desonestos, à qual acreditam ter direito em nome da "liberdade de imprensa", ou de certa superioridade intrínseca de caráter. Sou (bem pouquinho...) mais sofisticado e indubitavelmente mais pobre do que qualquer um deles, mas este tipo de coisa me faz temer pelas próprias merdas que escrevo, ainda que, com sorte, ninguém esteja lendo mesmo.
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